Aristóteles cita uma de
suas obras, "Anteu",
e Aristófanes o coloca como um dos
personagens de sua peça, "As
convocadas", onde o ridiculariza por sua condição de efeminado.
Ele aparece também como personagem de
"O Banquete", de Platão.
Aristodemo,”amigo” discípulo de Sócrates
Fedro, o jovem retórico;
Pausânias
o
médico Eriximaco
Aristófanes, o comediante que ridicularizava
Sócrates
o
político Alcibíades, dito amante de socrates,chega embriagado
Sócrates
Século V
a.C. Atenas. Inverno. Noite longa. Agaton, um jovem ateniense bonito e
inteligente, convida os amigos para um banquete para comemorar a vitória
em um Concurso Público... de tragédias. No primeiro dia, todos bebem até não
querer mais. No segundo dia, visivelmente de ressaca, propõem-se a agir com
moderação, até porque um médico renomado, Erixímaco, está à mesa-leito e porque
Sócrates, o mais espartano dos atenienses, está sendo aguardado.
Lá fora,
pelas ruas da cidade, Aristodemo encontra Sócrates de banho tomado e calçando
sandálias. Fica sabendo, por meio do mestre e muso, que ele está indo a um
banquete na casa de Agaton. Sócrates convida Aristodemo para acompanhá-lo.
Sócrates, que não está acostumado a caminhar o tempo todo e longas distâncias
ao lado de uma mesma pessoa, começa a andar a passos mais lentos. Aristodemo,
que conhecia esse comportamento do mestre, segue adiante e é bem recebido por
Agaton que, por sinal, esclarece que Aristodemo não havia sido convidado formalmente
porque não fora localizado pelo mensageiro de Agaton. Que sentasse e se
requentasse entre os convidados, entre eles Aristófanes, o autor de As Nuvens,
Fedro e Pausânias.
Sócrates
tinha mesmo ficado para trás e a última vez que havia sido visto estava parado
no jardim da casa, como que em transe, recusando-se a entrar e o que quer que
fosse, exceto ocupar-se com um colóquio com o seu demônio interior. Agaton
desejou mandar um criado ou um escravo para trazer Sócrates, mas Aristodemo o
dissuadiu dizendo que esse era mesmo o jeitão de Sócrates, jeitão conhecido por
todos ali, de modo que acharam melhor começarem a se alimentar e a beber com a
necessária moderação. Sócrates viria a seu tempo.
Quando
estavam a meio da refeição, chega Sócrates que, elegantemente, senta, a pedido
do anfitrião, a seu lado, para assim, como entende Agaton, pudesse se contagiar
com a sabedoria que Sócrates teria atingido em sua solidão recente. Sócrates,
com cordialidade, mas sem deixar de lado a ironia, declara que sua sabedoria,
que se alimenta da incerteza e da vaguidão dos sonhos, não é nada perto da
aclamação que Agaton recebera de 30 mil atenienses há dois dias. Era o toque do
moscardo ou do moscão. Agaton não se deixa atordoar. Chama Sócrates apenas de
zombeteiro e promete, para breve, um desafio em que cada um poderia mostrar as
armas de sua sabedoria. E assim, alimentados, tendo cantado, rezado e bebido
com moderação, propõem um desafio: discursar sobre o amor e confrontar ou
julgar qual o melhor discurso.
Seguindo
certa hierarquia, já que, entre os atualmente presentes, Agaton vai ser o
penúltimo e Sócrates o último, todos desfilam, em longos monólogos, a sua
cultura e erudição sobre o amor, com especial destaque para o discurso de
Aristófanes e para o de Sócrates. O tema desses discursos é um assunto à parte,
para outro momento nosso. Vamos direto para o final, para um elemento surpresa
do Banquete: a chegada, visivelmente embriagado, de Alcibíades, declarado
amante de Sócrates (o que não significa, até esse ponto da narrativa, que
Sócrates o amasse). Alcibíades estava tão alcoolizado que, ao sentar entre
Agaton e Sócrates, sequer percebeu a presença do filósofo. Alertado pelos
convivas sobre a presença de Sócrates, levou um susto tão grande, tanta
adrenalina foi lançada ao sangue que ficou subitamente sóbrio. O susto se deveu
não tanto por encontrar Sócrates em um lugar inusitado, mas por encontrá-lo ao
lado de Agaton, alvo da disputa, ao que parece, tanto de Alcibíades e de
Sócrates. Configurou-se ali um triângulo amoroso ou até, em outra leitura, um
quadrado amoroso, porque Aristodemo estava também no banquete.
Vendo a
súbita sobriedade de Alcibíades, agora não mais tão jovem e já há algum tempo
um funcionário do Estado de Atenas, os amigos em banquete pedem-lhe para
participar da discussão sobre o amor e manifestar a sua opinião sobre o tema. O
monólogo de Alcibíades e os breves diálogos que lhe sucedem, bem como a
narrativa final, são talvez as melhores partes do texto, com o qual, de certa
forma, recusam-se a se amalgamar. As relações que Alcibíades estabelece entre o
amor e a liberdade, entre o falso amor e a aceitação da escravidão, são dignas
do melhor de Platão, bem como a incompatibilidade defendida entre a atrativa
vida pública e o amor verdadeiro. Como o monólogo é, em grande parte, um
panegírico ou uma apologia de Sócrates enquanto figura que encarna
emblematicamente o amor, gira em torno dos feitos de Sócrates como soldado de
Atenas nas expedições de Potideia e na retirada solerte após a derrota em Délium.
Além disso, Alcibíades descreve, para espanto e incredulidade dos seus
ouvintes, as suas tentativas para seduzir Sócrates, declarando, como defesa e
acusação de Sócrates, que este se prestava apenas ao papel de amado nas
relações, jamais de amante. Tanto isso seria verdade que o mais longe a que
teria conseguido conduzir as suas investidas sexuais teria sido uma bela noite
de sono ao lado de Sócrates tal como se estivesse a dormir ao lado de um irmão
mais velho ou do próprio pai. O argumento, no entanto, perde a sua força junto
ao grupo porque Alcibíades o toma como advertência para Agaton, sugerindo que
suas investidas amorosas em direção ao mestre não passariam do portal do
fraternal e do familiar. Todos riem, riso que é compartilhado também por Sócrates,
que declara que Alcibíades teria feito uma manobra erística para desunir
Sócrates e Agaton. Pronto, pensa-se. Alcibíades está desacreditado ao dizer que
Sócrates não é de ninguém, porque Sócrates seria de todos, premissa que parece
acentuada por um interesse que o filósofo manifesta ali mesmo por Agaton. No
entanto (e isso é Platão, é preciso não esquecer), quando Agaton ia se
aproximar de Sócrates para ficar com o filósofo, chega uma galera vinda de
outra festa, cortando com o clima favorável entre Agaton e Sócrates.
Aristodemo, o amigo de Sócrates e que narra o acontecido no banquete a
Apolodoro (que o narra a outros, inclusive a nós), conta que todos beberam até
não poder mais e adormeceram quase todos ali mesmo, à exceção do médico e uns
poucos, que foram para as suas casas.
Aristodemo,
ao acordar com o canto do galo, encontrou Sócrates, Aristófanes e Agaton ainda
acordados, bebendo na mesma taça e concluindo, pelo visto, um longo diálogo, em
que Sócrates teria provado que é poeta mais competente aquele que é bom em
comédia e também em tragédia. Só então, narra Aristodemo para Apolodoro, o sono
começa a bater nos últimos participantes do banquete: primeiro dorme
Aristófanes, depois Agaton. Sócrates, vendo ambos finalmente adormecidos e,
portanto, incapazes de seguirem uma nova discussão filosófica, ergue-se e sai
acompanhado de Aristodemo, espécie de companheiro de jornadas. Caminham para
fora dos muros da cidade, para o Liceu. Ali, num rio chamado Ilissos,
banhou-se. Não consta que Aristodemo tenha feito o mesmo. Era inverno. E porque
Aristodemo compreendia Sócrates. Após o banho, Sócrates passou todo o dia como
de costume: em praça pública e ensinando que é sabedoria saber destruir as
falsas sabedorias; quanto ao resto, se há alguma coisa, não passa de incerteza
e vaguidão dos sonhos: que deixemos aos deuses esse território (cf. o velho e bom Sócrates). Só ao final daquela
tarde foi para casa repousar. Tinha uma mulher (ou, em outra versão, duas) para
cuidar e dois filhos para criar. E uma pequena renda no banco que precisava
administrar.
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