sábado, 10 de agosto de 2013

BANQUETE DE PLATÃO-QUEM ESTAVA PRESENTE




Agaton Por algum tempo, Agaton produziu tragédias em Atenas; depois partiu, com seu amigo Eurípedes, para a corte de Arquelau I da Macedônia, onde viria a morrer'
Aristóteles cita uma de suas obras, "Anteu", e Aristófanes o coloca como um dos personagens de sua peça, "As convocadas", onde o ridiculariza por sua condição de efeminado.
Ele aparece também como personagem de "O Banquete", de Platão.

 Aristodemo,”amigo”  discípulo de Sócrates

 Fedro, o jovem retórico;

Pausânias

o médico Eriximaco

 Aristófanes, o comediante que ridicularizava Sócrates

o político Alcibíades, dito amante de socrates,chega embriagado

 Sócrates








Século V a.C. Atenas. Inverno. Noite longa. Agaton, um jovem ateniense bonito e inteligente, convida os amigos para um banquete para comemorar a vitória em um Concurso Público... de tragédias. No primeiro dia, todos bebem até não querer mais. No segundo dia, visivelmente de ressaca, propõem-se a agir com moderação, até porque um médico renomado, Erixímaco, está à mesa-leito e porque Sócrates, o mais espartano dos atenienses, está sendo aguardado. 

Lá fora, pelas ruas da cidade, Aristodemo encontra Sócrates de banho tomado e calçando sandálias. Fica sabendo, por meio do mestre e muso, que ele está indo a um banquete na casa de Agaton. Sócrates convida Aristodemo para acompanhá-lo. Sócrates, que não está acostumado a caminhar o tempo todo e longas distâncias ao lado de uma mesma pessoa, começa a andar a passos mais lentos. Aristodemo, que conhecia esse comportamento do mestre, segue adiante e é bem recebido por Agaton que, por sinal, esclarece que Aristodemo não havia sido convidado formalmente porque não fora localizado pelo mensageiro de Agaton. Que sentasse e se requentasse entre os convidados, entre eles Aristófanes, o autor de As Nuvens, Fedro e Pausânias. 

Sócrates tinha mesmo ficado para trás e a última vez que havia sido visto estava parado no jardim da casa, como que em transe, recusando-se a entrar e o que quer que fosse, exceto ocupar-se com um colóquio com o seu demônio interior. Agaton desejou mandar um criado ou um escravo para trazer Sócrates, mas Aristodemo o dissuadiu dizendo que esse era mesmo o jeitão de Sócrates, jeitão conhecido por todos ali, de modo que acharam melhor começarem a se alimentar e a beber com a necessária moderação. Sócrates viria a seu tempo. 

Quando estavam a meio da refeição, chega Sócrates que, elegantemente, senta, a pedido do anfitrião, a seu lado, para assim, como entende Agaton, pudesse se contagiar com a sabedoria que Sócrates teria atingido em sua solidão recente. Sócrates, com cordialidade, mas sem deixar de lado a ironia, declara que sua sabedoria, que se alimenta da incerteza e da vaguidão dos sonhos, não é nada perto da aclamação que Agaton recebera de 30 mil atenienses há dois dias. Era o toque do moscardo ou do moscão. Agaton não se deixa atordoar. Chama Sócrates apenas de zombeteiro e promete, para breve, um desafio em que cada um poderia mostrar as armas de sua sabedoria. E assim, alimentados, tendo cantado, rezado e bebido com moderação, propõem um desafio: discursar sobre o amor e confrontar ou julgar qual o melhor discurso. 

Seguindo certa hierarquia, já que, entre os atualmente presentes, Agaton vai ser o penúltimo e Sócrates o último, todos desfilam, em longos monólogos, a sua cultura e erudição sobre o amor, com especial destaque para o discurso de Aristófanes e para o de Sócrates. O tema desses discursos é um assunto à parte, para outro momento nosso. Vamos direto para o final, para um elemento surpresa do Banquete: a chegada, visivelmente embriagado, de Alcibíades, declarado amante de Sócrates (o que não significa, até esse ponto da narrativa, que Sócrates o amasse). Alcibíades estava tão alcoolizado que, ao sentar entre Agaton e Sócrates, sequer percebeu a presença do filósofo. Alertado pelos convivas sobre a presença de Sócrates, levou um susto tão grande, tanta adrenalina foi lançada ao sangue que ficou subitamente sóbrio. O susto se deveu não tanto por encontrar Sócrates em um lugar inusitado, mas por encontrá-lo ao lado de Agaton, alvo da disputa, ao que parece, tanto de Alcibíades e de Sócrates. Configurou-se ali um triângulo amoroso ou até, em outra leitura, um quadrado amoroso, porque Aristodemo estava também no banquete. 

Vendo a súbita sobriedade de Alcibíades, agora não mais tão jovem e já há algum tempo um funcionário do Estado de Atenas, os amigos em banquete pedem-lhe para participar da discussão sobre o amor e manifestar a sua opinião sobre o tema. O monólogo de Alcibíades e os breves diálogos que lhe sucedem, bem como a narrativa final, são talvez as melhores partes do texto, com o qual, de certa forma, recusam-se a se amalgamar. As relações que Alcibíades estabelece entre o amor e a liberdade, entre o falso amor e a aceitação da escravidão, são dignas do melhor de Platão, bem como a incompatibilidade defendida entre a atrativa vida pública e o amor verdadeiro. Como o monólogo é, em grande parte, um panegírico ou uma apologia de Sócrates enquanto figura que encarna emblematicamente o amor, gira em torno dos feitos de Sócrates como soldado de Atenas nas expedições de Potideia e na retirada solerte após a derrota em Délium. Além disso, Alcibíades descreve, para espanto e incredulidade dos seus ouvintes, as suas tentativas para seduzir Sócrates, declarando, como defesa e acusação de Sócrates, que este se prestava apenas ao papel de amado nas relações, jamais de amante. Tanto isso seria verdade que o mais longe a que teria conseguido conduzir as suas investidas sexuais teria sido uma bela noite de sono ao lado de Sócrates tal como se estivesse a dormir ao lado de um irmão mais velho ou do próprio pai. O argumento, no entanto, perde a sua força junto ao grupo porque Alcibíades o toma como advertência para Agaton, sugerindo que suas investidas amorosas em direção ao mestre não passariam do portal do fraternal e do familiar. Todos riem, riso que é compartilhado também por Sócrates, que declara que Alcibíades teria feito uma manobra erística para desunir Sócrates e Agaton. Pronto, pensa-se. Alcibíades está desacreditado ao dizer que Sócrates não é de ninguém, porque Sócrates seria de todos, premissa que parece acentuada por um interesse que o filósofo manifesta ali mesmo por Agaton. No entanto (e isso é Platão, é preciso não esquecer), quando Agaton ia se aproximar de Sócrates para ficar com o filósofo, chega uma galera vinda de outra festa, cortando com o clima favorável entre Agaton e Sócrates. Aristodemo, o amigo de Sócrates e que narra o acontecido no banquete a Apolodoro (que o narra a outros, inclusive a nós), conta que todos beberam até não poder mais e adormeceram quase todos ali mesmo, à exceção do médico e uns poucos, que foram para as suas casas. 

Aristodemo, ao acordar com o canto do galo, encontrou Sócrates, Aristófanes e Agaton ainda acordados, bebendo na mesma taça e concluindo, pelo visto, um longo diálogo, em que Sócrates teria provado que é poeta mais competente aquele que é bom em comédia e também em tragédia. Só então, narra Aristodemo para Apolodoro, o sono começa a bater nos últimos participantes do banquete: primeiro dorme Aristófanes, depois Agaton. Sócrates, vendo ambos finalmente adormecidos e, portanto, incapazes de seguirem uma nova discussão filosófica, ergue-se e sai acompanhado de Aristodemo, espécie de companheiro de jornadas. Caminham para fora dos muros da cidade, para o Liceu. Ali, num rio chamado Ilissos, banhou-se. Não consta que Aristodemo tenha feito o mesmo. Era inverno. E porque Aristodemo compreendia Sócrates. Após o banho, Sócrates passou todo o dia como de costume: em praça pública e ensinando que é sabedoria saber destruir as falsas sabedorias; quanto ao resto, se há alguma coisa, não passa de incerteza e vaguidão dos sonhos: que deixemos aos deuses esse território (cf. o velho e bom Sócrates). Só ao final daquela tarde foi para casa repousar. Tinha uma mulher (ou, em outra versão, duas) para cuidar e dois filhos para criar. E uma pequena renda no banco que precisava administrar.

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